GUERRA DO PARAGUAI
Travada entre Paraguai, Brasil, Uruguai e Argentina, a Guerra do Paraguai ocorreu entre os anos 1864 e 1870 e é considerada o maior confronto do continente sul-americano em proporções de números de mortos.
O que gerou o conflito?
Para entender melhor sobre as causas que levaram ao conflito, é importante que se esclareça o contexto regional desse período.
Durante os anos de 1850 o então presidente Paraguaio Carlos Antonio López criou uma série de obstáculos a navegação dos navios brasileiros no Rio Paraguai, que era visto como crucial para o Império Brasileiro tendo em vista que os caminhos por terra eram bastante precários e demorados, o que tornou o Rio Paraguai fundamental para consolidar o acesso ao Mato Grosso.
As constantes ameaças do Império ao vizinho Paraguaio – conhecidos como Guaranis – fez com que os países selassem um acordo em abril de 1856, que garantia ao Brasil a livre navegação desse rio. Mesmo com o tratado, os paraguaios continuavam dificultando as navegações das naus brasileiras, estremecendo cada vez mais a relação entre os países. De um lado os paraguaios tentavam ganhar tempo para preparar suas tropas para possíveis conflitos com os brasileiros e argentinos. Do outro, os brasileiros temiam fazer qualquer tipo de concessão que ameaçasse a manutenção do território de Mato Grosso.
A relação piorou de maneira definitiva a partir do ano de 1862 com a posse de Solano Lopez como presidente paraguaio e com a aproximação do governo com os federalistas argentinos que, mais tarde, deu origem a aliança deste grupo com paraguaios e uruguaios integrantes do Partido Blanco.
Países sul-americanos e o contexto político regional
No período dos anos de 1860 a América do Sul vivia um momento tanto quanto delicado. É necessário entender o contexto de alguns países para compreender melhor a Guerra do Paraguai.
Uruguai
Desde a independência do país, os uruguaios sofreram com interferências externas dos países vizinhos, principalmente do Brasil. Vale lembrar que na época muitos brasileiros habitavam a região e usavam o solo do país para criação do gado, que à posteriori seria vendido no Brasil.
O contexto político uruguaio nessa época era constituído por dois partidos: os blancos – normalmente atrelados aos grandes proprietários de terras – e os colorados – do qual normalmente faziam parte os comerciantes de Montevidéu.
Argentina
No ano de 1862 Bartolomé Mitre assume a presidência do país contando com o apoio de Venâncio Flores – presidente uruguaio por dois mandatos – e do partido dos colorados do Uruguai.
Para mostrar sua força, Mitre articulou ações para que fosse dificultada a navegação na Bacia do Rio da Prata, atingindo em cheio os interesses paraguaios. Não se demorando na resposta, os paraguaios, por sua vez, decidem levar suas exportações para o Uruguai, não utilizando mais os portos argentinos.
Vale lembrar que o Paraguai não dispunha de uma saída para o Oceano Atlântico, portanto necessitava de portos em países vizinhos para escoar sua produção.
Em 1861, os uruguaios, que estavam sob comando dos blancos, decidiram por criar um imposto que seria aplicado na exportação do gado para o Brasil, além de impedir que os gaúchos fizessem o uso de mão de obra escrava em terras uruguaias. Este foi o pano de fundo para que os gaúchos cobrassem do governo brasileiro uma atitude para corrigir esta situação.
A resposta do governo veio por meio do apoio prestado ao ex presidente uruguaio Venâncio Flores que representava a figura de líder do partido colorado, mas que estava na situação de refugiado na Argentina. Venâncio Flores retornou ao seu país de 1863 para retirar os blancos do poder, e em troca, havia prometido garantir os interesses do Brasil em seu país.
A invasão ao Uruguai
Solano Lopez, então presidente do Paraguai, lançou a época a seguinte advertência para o Brasil: não interfiram nos assuntos uruguaios! Porém, de nada adiantou a mensagem enfática do presidente paraguaio.
Cansado das sanções impostas pelos uruguaios, o Brasil decide cortar relações com o país e avançar para a conquista das cidades uruguaias. Em setembro de 1864 temos o episódio que deu início a Guerra, quando tropas brasileiras adentram o país em conjunto com os aliados de Venâncio Flores, estabelecendo desta maneira um governo provisório que atendia finalmente aos interesses brasileiros – retirando as sanções que haviam sido impostas. Entretanto, esta atitude serviu como pólvora, e a relação entre estes países fora de forma definitiva comprometida.
Não demorou muito até que Solano Lopez ordenasse a sua primeira ofensiva. Em novembro de 1864 o navio a vapor do brasileiro Marquês de Olinda foi capturado enquanto navegava no Rio Paraguai com destino ao Mato Grosso a qual foi então tomada por tropas enviadas por Solano Lopez.
O ato seguinte da ofensiva consistia em invadir o Rio Grande do Sul. É então que o nome de Bartolomeu Mitre – presidente argentino – entrou em cena. Isso porque o trajeto que os soldados das tropas paraguaias precisavam fazer para chegar a província brasileira, tornava necessário cruzar a província argentina de Corrientes. Foi então que Bartolomeu Mitre recusou permitir a entrada das tropas paraguaias em seu solo, o que fez com que Solano Lopez declarasse guerra ao país, ordenando o envio de 22 mil soldados para atacar a Argentina.
Diante desse cenário, o governo brasileiro propôs a Argentina e ao Uruguai a assinatura do tratado que ficou conhecido como Tratado da Tríplice Aliança, assinado em 1º de maio de 1865, o qual estabelecia como condição o fornecimento de recursos para lutar contra o Paraguai.
Os principais conflitos
Apesar do exército brasileiro ser de pouco mais de 18 mil homens – em comparação com os mais de 60 mil paraguaios – a guerra serviu para unir pela primeira vez, pessoas de todas as classes e regiões do brasil, desde escravos, analfabetos e fazendeiros, até gaúchos e paulistas.
No entanto, a guerra se arrastou mais do que esperado, isso tudo porque a geografia e o desconhecimento da região dificultavam as ações dos envolvidos. E devido ao número de baixas das batalhas, o Imperador Don Pedro II chegou a criar o programa Voluntários da Pátria, prometendo uma série de benefícios como lotes de terras, dinheiro e a alforria para os escravos que se alistassem. Porém, devido a baixa procura, o governo acabou estipulando que deveria enviar obrigatoriamente um número de pessoas proporcional a sua população.
As principais batalhas:
Batalha de Riachuelo (junho de 1865): considerada a batalha mais decisiva da guerra, ela foi vencida pela marinha brasileira, e retomou o controle brasileiro do rio durante a guerra, além de impedir o abastecimento de material bélico para o Paraguai vindos do exterior.
Batalha de Tuiuti (maio de 1866): a confronto deixou o saldo de mais de 10 mil homens e além disso, ficou marcado pela substituição do general brasileiro Osório pelo Marques de Caxias, mais conhecido como Duque de Caxias.
Batalha de Laguna (1867): soldados brasileiros tentaram neste momento retomar a posse do Mato Grosso que estava sob domínio dos paraguaios. Porém, sofreram revés pelas tropas do Paraguaias no que ficou conhecida como a retirada de Laguna. Outro momento importante do conflito, foi a retirada da Argentina e Uruguai da guerra em virtude das condições de se sustentarem no conflito.
Batalha de Humaitá (1868): momento decisivo para o final da guerra, a conquista da Fortaleza de Humaitá era tida como a maior posição defensiva. A partir desta derrota, as condições dos paraguaios foi se deteriorando de maneira definitiva.
Invasão a Assunção (1869): após a conquista de Assunção, a guerra chegou próxima do seu final. Isso porque o Marques de Caxias acreditava que com a conquista de Assunção a guerra estaria terminada. Porém, o imperador Don Pedro II se negou a negociar Solano Lopez, o que fez com ele exigisse a caçada do presidente paraguaio. Diante dessas circunstâncias, o herói da guerra Marques de Caxias se negou a continuar a caçada a Solano Lopez, e regressou para o Brasil. Em seu lugar, foi nomeado o conde d’Eu marido da princesa Isabel.
O fim da Guerra
Foi no norte de Assunção no dia 01 de março de 1870, na região de Cerro Corá – quase um ano depois da conquista de Assunção – que o desejo do imperador brasileiro foi finalmente consumado: as tropas brasileiras pegaram Solano Lopez. Porém, ele acabou sendo morto por um soldado conhecido como Chico do Diabo.
Esta que foi a maior guerra do continente sul-americano (1864 – 1870)e trouxe como resultado final para o lado derrotado um saldo bastante negativo. Os soldados paraguaios no último ano do conflito era formado por crianças, mulheres e idosos que usavam como armamento pedras, madeira e tijolos.
Sobre o número de mortos, não existem dados precisos, mas estima-se que durante o conflito 75% da população paraguaia foi morta, reduzindo sua população de 800 mil habitantes para algo em torno de 190 mil. Além disso, o Paraguai perdeu cerca de 140 mil quilômetros para a Argentina e o Brasil.
No lado brasileiro, a guerra custou a vida de aproximadamente 50 mil pessoas, além de uma dívida com os bancos ingleses de aproximadamente 614 mil contos de réis, o que acabou sendo considerado um desastre se analisado do ponto de vista econômico.
Mais de um século e meio depois, quando feito uma retrospectiva do conflito, fica evidente o quão danoso ele foi para o Paraguai. Foi somente no ano de 1916, que um presidente conseguiu cumprir um mandato até o final – após seis golpes de Estado. Nesta conta, cabem ainda oito revoluções que acabaram fracassando. As eleições democráticas só chegaram ao país em 1993. No ano de 1999, o presidente Raul Cubas renunciou e em 2012 Fernando Lugo sofreu um impeachment, o que demonstra que a democracia no país ainda é frágil.
Não é possível saber quais rumos teriam tomado o Paraguai e a consequente política latino-americana da época caso o conflito tivesse sido evitado. A única certeza que se tem é a de que muitas vidas teriam sido poupadas se essa estratégia tivesse dado lugar aos bons ofícios da diplomacia.
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