Revoltas urbanas e rurais na República Velha


Revoltas urbanas e rurais na República Velha

 

Muitos historiadores classificam as revoltas da República Velha (ou Primeira República) como rurais ou urbanas. No caso das revoltas rurais, o historiador Boris Fausto ainda afirma que elas podem ser classificadas de três maneiras distintas|4|:
1.       As que combinaram conteúdo religioso com carência social: Canudos e Revolta de Juazeiro.
2.       As que combinaram conteúdo religioso com reivindicação social: Contestado.
3.       As que expressaram reivindicações sociais sem conteúdo religioso: greves de trabalhadores rurais organizadas na década de 1910.
Dessa divisão de revoltas urbanas e revoltas rurais, segue um quadro abaixo que classifica algumas das que aconteceram durante a Primeira República.




Revoltas urbanas
Revoltas rurais
Revolta da Vacina
Canudos
Revolta da Chibata
Contestado
Revolta dos 18 do Forte de Copacabana
Revolta de Juazeiro
Greves operárias
Cangaço

Guerra de Canudos

A Guerra de Canudos foi uma Guerra Civil, que aconteceu entre os dias 7 de novembro de 1896 e 5 de outubro de 1897, no Sertão da Bahia, mais precisamente no povoado do Arraial de Canudos. O conflito foi causado pelas desavenças entre o povo, a Igreja e os poderes públicos, que começou em virtude da grande pobreza que assolava a região, após a implementação da República em todo o país.

Contexto histórico da Guerra de Canudos

         A Guerra de Canudos foi resultado de uma grave crise econômica e social que atingiu diversas regiões do Brasil, principalmente a região Nordeste. Com uma grande presença de grandes propriedades agrícolas, a seca que afetou a região trouxe consigo uma série de problemas como o desemprego, pobreza, entre outras questões.
         Muitos começaram a acreditar que só uma salvação milagrosa seria capaz de impedir a miséria e a exclusão social que aquela população vivenciava.
          Logo no início da implementação do regime republicano, os sertanejos que habitavam em Canudos não contestavam os novos métodos de governo, mas houve algumas mobilizações contra a cobrança de impostos. Com isso, a Igreja, os latifundiários e a imprensa se incomodaram com as manifestações de Canudos que, por sinal, estava atraindo diversas pessoas.
          A comunidade e suas mobilizações ganhou ainda mais força com o apoio de Antônio Vicente Mendes Maciel, popularmente conhecido como Antônio Conselheiro. Autointitulado como o peregrino, que iria salvar a população daquela miséria, ele conquistou diversos seguidores.
          Para ele, o método republicano implantado no Brasil era a representação do fim dos tempos. Com isso, foi construída uma imagem de que Antônio Conselheiro e seus seguidores eram perigosos monarquistas.
          Revoltado, o governo do estado da época pediu apoio aos militares para banir a comunidade e seus moradores. Porém, o mais curioso foi que nas primeiras três tentativas dos militares, eles foram vencidos pelo povo de Canudos, o que assustou ainda mais os governantes.
          Foi a partir de então que as tropas do Exército se prepararam para um grande massacre. Todas as casas foram queimadas, milhares de pessoas foram mortas, entre elas crianças, mulheres e idosos.
         Durante esse grande massacre, mais precisamente no dia 22 de setembro de 1897, Antônio Conselheiro foi morto por militares do Exército.

Tenentismo

      O tenentismo foi um movimento político e militar realizado por jovens oficiais brasileiros durante o período da Primeira República. Esse corpo de oficiais era composto em geral por tenentes e capitães que estavam insatisfeitos com o sistema político brasileiro, sobretudo com as práticas do jogo político imposto pelas oligarquias.
       O surgimento do tenentismo na década de 1920 contribuiu para a desestabilização da ordem política existente na Primeira República. O surgimento desse movimento remonta à campanha eleitoral das eleições de 1922. Nessas eleições, a oligarquia paulista e mineira lançou Artur Bernardes como candidato a presidente e enfrentou a concorrência de Nilo Peçanha, apoiado pelas oligarquias de Rio Grande do Sul, Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro.
      A candidatura de Nilo Peçanha ficou conhecida como Reação Republicana, e sua chapa procurou conquistar o voto das classes médias urbanas. Foi durante essa campanha eleitoral que a imagem de Artur Bernardes como político antimilitar popularizou-se por causa de cartas falsas que foram veiculadas com supostas críticas feitas por ele aos militares.
      Apesar de ter sido divulgado à época que os documentos eram falsos, a relação dos militares com Artur Bernardes desgastou-se profundamente. A situação agravou-se de maneira definitiva quando o presidente eleito Artur Bernardes ordenou o fechamento do Clube Militar e a prisão de Hermes da Fonseca. A partir daí, iniciou-se um movimento de revolta e contestação dentro do exército contra os governos da Primeira República.
      A atuação do movimento tenentista estendeu-se de 1922 a 1927 e, ao longo desse período, uma série de rebeliões aconteceu. A primeira grande revolta dos tenentistas aconteceu em 5 de julho de 1922, na cidade do Rio de Janeiro, e ficou conhecida  como Revolta do Forte de Copacabana ou Revolta dos 18 do Forte de Copacabana.
      Os tenentes rebelados em Copacabana queriam recuperar a honra dos militares, alegando que eram reprimidos pelo governo de Artur Bernardes. Durante essa revolta, os tenentes ficaram cercados no Forte de Copacabana e, em certo momento, 18 oficiais, em um ato de desespero, resolveram marchar pela avenida Atlântica na direção das tropas do governo. Somente dois oficiais dos dezoito sobreviveram: Siqueira Campos e Eduardo Gomes.
       Depois desse episódio, o ímpeto da revolta espalhou-se por outros oficiais em diferentes partes do Brasil. Houve rebeliões tenentistas em Manaus, em 1924, que ficaram conhecidas como Comuna de Manaus. Houve também a Revolução Paulista de 1924, que posteriormente deu início à Coluna Costa-Prestes, quando as tropas tenentistas lideradas por Miguel Costa uniram-se com os tenentistas liderados por Luís Carlos Prestes.
      A Coluna Costa-Prestes surgiu em 1925 e foi considerada o maior movimento tenentista do período. Os oficiais liderados por Miguel Costa e Luís Carlos Prestes marcharam no interior do Brasil durante mais de dois anos, lutando contra as tropas do presidente Artur Bernardes. Ao todo, a Coluna Costa-Prestes marchou por 25.000 quilômetros e cruzou doze estados. O movimento encerrou-se em 1927, quando se exilaram na Bolívia.
        Os  tenentistas  eram absolutamente contrários às práticas políticas do período da Primeira República. Assim, eles lutavam contra o poder das oligarquias, sobretudo no interior do Brasil, onde as desigualdades sociais manifestavam-se de maneira mais acentuada.
       Os tenentistas consideravam a condição política em que o Brasil se encontrava como a grande causadora das carências existentes. Como lutavam contra as oligarquias, naturalmente, eram contrários à existência do federalismo no Brasil, alegando que esse sistema permitia a fragmentação política do Brasil, o que gerava a concentração do poder em núcleos regionais.
       Os tenentistas, em geral, defendiam um projeto para o Brasil baseado no liberalismo, porém, é importante pontuar que dentro do grupo existiam oficiais que abraçavam outras ideologias, como o comunismo. Além disso, defendiam a formação de uma república autoritária que promovesse as mudanças necessárias. Assim, conforme colocam as historiadoras Lilia Schwarcz e Heloisa Starling, os tenentistas eram “liberais em temas sociais e autoritários em política”
     No campo econômico, defendiam a modernização e industrialização do país e o fim da política que priorizava o café na economia brasileira. Por fim, vale ressaltar que, em questões sociais, eles defendiam “a reforma do ensino público, a obrigatoriedade do ensino primário e a moralização da política”. Além disso, “denunciavam, também, as miseráveis condições de vida e a exploração dos setores mais pobres”

Revolta do Forte de Copacabana

     Conhecida como uma das primeiras manifestações do movimento tenentista, o Levante do Forte de Copacabana foi uma das mais significativas demonstrações de crise da hegemonia oligárquica. Esta revolta foi ambientada no ano de 1922, período em que acontecia a campanha de sucessão ao governo do presidente Epitácio Pessoa. A disputa eleitoral envolveu Artur Bernardes, representante da oligarquia paulista, e Nilo Peçanha, apoiado pelos militares e oligarcas dissidentes do Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia.
     Derrotados na disputa eleitoral, os tenentes se sentiram profundamente frustrados com a perpetuação de mais um representante das oligarquias. Foi nesse momento que uma série de cartas falsas, supostamente escritas por Artur Bernardes, dirigia várias críticas à ação política dos oficiais do exército. Ao mesmo tempo, havia um descontentamento geral contra o novo governo em uma época em que a população sentia profundamente as mazelas causadas pelo conservadorismo político-econômico dos oligarcas.
     Nesse clima de insatisfação geral, alguns militares de baixa patente organizaram levantes em instalações militares do Rio de Janeiro, Mato Grosso e Niterói. Na verdade, a agitação desse militares somente tomou corpo depois que o marechal Hermes da Fonseca foi preso após criticar o processo eleitoral que garantiu a vitória de Artur Bernardes. Entre os diversos focos de revolta, o mais grave aconteceu na capital, no interior das instalações do Forte de Copacabana, em cinco de julho de 1922.
     Controlados sob a liderança de Euclides Hermes da Fonseca (filho do marechal) e Siqueira Campos, os militares amotinados apontaram seus canhões em diferentes pontos do Rio de Janeiro. Segundo relato, a intenção desses revoltosos era de tomar o Palácio do Catete e colocar Hermes da Fonseca como presidente provisório. Nesse meio tempo, os votos da última eleição seriam recontados para que se acabassem as suspeitas de fraude que marcaram aquela disputa.
      Temendo o poder de reação do governo, os líderes do Forte permitiram que aqueles soldados que não quisessem participar do levante saíssem do local. De todos os 300 amotinados ali encontrados, somente vinte e oito resolveram permanecer no conforto. Com a imensa deserção acontecida, Euclides Hermes da Fonseca resolveu sair do Forte para tentar negociar com o governo. Após sua saída, foi imediatamente preso e o prédio bombardeado pelas tropas governamentais.
      A intensificação dos ataques forçou o pequeno grupo a abandonar o Forte de Copacabana. Entre todos os participantes, somente dezessete resolveram seguir em frente com o arriscado plano. A caminho do palácio, os militares ganharam o apoio de um civil chamado Otávio Pessoa. Assim, os “18 do Forte” saíram pela Praia de Copacabana dispostos a enfrentar as tropas do governo. No confronto, dezesseis deles foram mortos. Eduardo Gomes e Siqueira Campos acabaram presos.

        Apesar da eficiente represália das tropas oficiais, o evento dos “18 do Forte” inspirou outros indivíduos ligados ao Exército a darem continuidade ao movimento tenentista. Dois anos mais tarde, novos incidentes envolvendo os militares mostrariam, mais uma vez, a crise que acometia os grupos políticos vinculados às oligarquias. Sinais de que os anseios políticos da época passavam por uma séria transformação e que os cafeicultores não poderiam assegurar sua própria hegemonia.

Revolta da vacina

     A cidade do Rio de Janeiro sofria em 1904 com sérios problemas de saúde publica. Com cerca de 800 mil habitantes, diversas doenças – como tuberculosepeste bubônicafebre amarelavaríolamaláriatifocólera - assolavam a população e eram objeto de preocupação dos governantes. O então presidente Rodrigues Alves com o intuito de modernizar (e embelezar) a cidade e também controlar tais epidemias, iniciou uma série de reformas urbanas que mudou a geografia da cidade e o cotidiano de sua população.
As mudanças arquitetônicas da cidade ficaram a cargo do engenheiro Pereira Passos. Ruas foram alargadas, cortiços foram destruídos e a população pobre removida de suas antigas moradias. Coube a Oswaldo Cruz, nomeado diretor geral de Saúde Pública em 1903, a missão de promover um saneamento na cidade e erradicar a febre amarela, a peste bubônica e a varíola. Com este intuito, em junho de 1904 o governo fez uma proposta de lei que tornava obrigatória a vacinação da população. Mesmo com 15 mil assinaturas contrárias, a lei foi aprovada no dia 31 de outubro.
     A esta lei já impopular, juntou-se uma drástica regulamentação proposta por Oswaldo Cruz. Nela, exigia-se comprovantes de vacinação para realizar matrículas nas escolas, assim como para obtenção de empregos, viagens, hospedagens e casamentos. Previa-se também o pagamento de multas para quem resistisse à vacinação. Quando esta proposta vazou para a imprensa, o povo indignado e contrariado deu início a maior revolta urbana que já tinha sido vista na capital.
A revolta começou em tono da estátua de José Bonifácio no Largo de São Francisco e rapidamente se espalhou por diversos lugares da cidade atingindo locais como Laranjeiras, Botafogo, Tijuca, Rio Comprido, Engenho Novo, Copacabana, além dos bairros da região central. Pedras, tiros, barricadas, fogueiras, depredações, eram utilizadas pela população para mostrar sua insatisfação. A repressão policial foi severa, sendo o saldo total desta revolta a prisão de 945 pessoas na Ilha de Cobras, 30 mortos, 110 feridos e 461 deportações para o Estado do Acre.
    José Murilo de Carvalho aponta para o fato que tiveram várias revoltas dentro da revolta, isto é, vários segmentos da população de diversas classes sociais e motivações políticas estiveram a frente destas agitações. Segundo o autor, a motivação para o povo se rebelar não era fundamentalmente econômica, e nem o deslocamento populacional ocasionado pelas mudanças ocorridas na cidade (embora, muitos estudiosos afirmem que a revolta ocorreu por uma soma de insatisfações com a política realizada, inclusive a remoção das moradias). Para ele, a Revolta da Vacina se distingue de protestos anteriores pela sua amplitude e intensidade baseada na justificativa moral.
     A forma como o processo foi conduzido por Oswaldo Cruz, apesar das boas intenções, foi entendido como arbitrário e despótico, sendo suas medidas apontadas como violação dos direitos civis e constitucionais. Além disso, havia um componente moral muito grande, pois naquela época foi considerado um crime contra honra de um chefe de família que seu lar, assim como os corpos de suas mulheres fossem invadidos por um desconhecido.

Revolta da chibata

      A Revolta da Chibata ocorreu durante o governo de Hermes da Fonseca, em 1910. Foi um levante de cunho social, realizado em subdivisões da Marinha, sediadas no Rio de Janeiro. O objetivo era por fim às punições físicas a que eram submetidos os marinheiros, como as chicotadas, o uso da santa-luzia e o aprisionamento em celas destinadas ao isolamento. Os marinheiros requeriam também uma alimentação mais saudável e que fosse colocada em prática a lei de reajuste de seus honorários, já votada pelo Congresso. De todos os pedidos requeridos, o que mais afligia os marujos eram os constantes castigos a que eram sujeitos. Esta situação revoltou os marinheiros, que eram obrigados, por seus comandantes, a assistir a todas as punições aplicadas, para que elas servissem de exemplo. Os soldados se juntavam e ao estampido de tambores traziam o rebelado, despido na parte de cima e com as mãos atadas, iniciando o castigo.
      A sublevação deu-se quando um marinheiro de nome Marcelino Rodrigues levou 250 chicotadas por ter machucado um companheiro da Marinha no interior do navio de guerra denominado Minas Gerais, que se encontrava a caminho do Rio de Janeiro. Os rebelados assassinaram o capitão do navio e mais três militares. Enquanto isso, na Baía de Guanabara, os insurgentes conseguiram a adesão dos marujos da nau São Paulo.
     O condutor da insurreição, João Cândido - o célebre Almirante Negro –, foi o responsável por escrever a missiva com as solicitações exigidas para o fim da revolta.
       O presidente Hermes da Fonseca percebeu que não se tratava de um blefe e decidiu ceder diante do ultimato dos insurgentes. Os marinheiros confiaram no presidente, entregaram as armas e os navios rebelados, mas com o término do conflito o governante não cumpriu com a sua palavra e baniu alguns marinheiros que haviam feito parte do motim. Os marinheiros não se omitiram diante deste fato, estourando outro levante na Ilha das Cobras, o qual foi severamente abafado pelas tropas do governo. Muitos marujos morreram, outros tantos foram banidos da Marinha. Quanto a João Cândido, foi aprisionado e atirado em um calabouço na Ilha das Cobras. Quando se livrou da prisão, encontrava-se emocionalmente amargurado, considerado até mesmo meio alucinado. Em 1912 ele foi julgado e considerado inocente. Historicamente ficou conhecido como o Almirante Negro, aquele que aboliu o uso da chibata na Marinha brasileira.

Guerra do Contextado

        A Guerra do Contestado aconteceu em uma área disputada pelos estados de Santa Catarina e Paraná entre 1912 e 1916. Assim como aconteceu em Canudos, na região do Contestado, uma série de sertanejos pobres e desalentados encontrou, no discurso de um líder religioso, chamado José Maria, uma alternativa para sua vida e passou a segui-lo.
      O contexto em que ocorreu o Contestado era tenso. Primeiro, havia a disputa territorial entre Santa Catarina e Paraná. Além disso, parte da região contestada foi entregue para Percival Farquhar (um magnata conhecido por construir a ferrovia Madeira-Mamoré) para que construísse uma ferrovia que ligasse o Rio Grande do Sul a São Paulo.
      No acordo de cessão de terras, a Farquhar também foram entregues terras num raio de 15 km da ferrovia, para que ele pudesse explorar a madeira disponível na região. Acontece que a região já era habitada por pessoas que viviam de uma agricultura de subsistência e da erva-mate. A empresa vinculada a Farquhar, responsável pela exploração da madeira nessas terras, organizou tropas de jagunços para expulsar os habitantes da área.
     Além disso, milhares de trabalhadores da ferrovia perderam seus empregos, o que reforçou o grupo de pessoas pobres. A guerra em si começou em outubro de 1912, quando um grupo de pessoas lideradas por José Maria instalou-se em Irani, na região contestada pelos dois estados. O agrupamento de pessoas em Irani foi entendido pelo Paraná como uma invasão coordenada pelos catarinenses, e, assim, esse estado atacou os sertanejos. Nesse ataque, José Maria acabou sendo morto.
      Após a morte de José Maria, o fervor religioso prosseguiu com os sertanejos fundando uma série de comunidades autônomas. A existência dessas comunidades era enxergada pelos coronéis locais como uma ameaça, e foi daí que se iniciou a repressão contra as comunidades autônomas formadas pelos sertanejos.
A raiz do conflito é explicada pelo historiador Paulo Pinheiro Machado da seguinte maneira:
Os episódios de perseguição policial contra o monge José Maria foram motivados pelo temor da concentração de gente pobre do campo. As autoridades locais e estaduais, em sua maioria grandes fazendeiros e oficiais da Guarda Nacional, sentiam que tinham como missão subjugar os sertanejos que não se submetiam mais aos seus respectivos coronéis. Formavam-se grupos autônomos, com fortes vínculos religiosos, nos quais expectativas místicas mesclavam-se à crítica social. Originalmente, essas comunidades não eram hostis nem militarizadas, mas seu anseio por independência despertou a ira dos governantes, da imprensa e dos fazendeiros.

A Guerra do Contestado estendeu-se até janeiro de 1916 e foi responsável pela morte de cerca de 10 mil pessoas. As comunidades autônomas foram destruídas e, nas décadas seguintes, foi realizado um processo de branqueamento daquela região.

Semana da Arte Moderna

O final do século XIX e a primeira metade do século XX foram períodos de grandes e significativas transformações na arte, especialmente nas artes visuais, na literatura, na música e na arquitetura, visando desprender-se de antigos valores estéticos. As novas tendências artísticas que vigoravam na Europa não demoraram muito para espalhar-se pelo mundo e chegar ao Brasil por artistas que estudavam na Europa e voltavam influenciados por essas novas ideias. Um bom exemplo são as primeiras exposições de Anita Malfatti, que recém voltada da Alemanha, trazia ao Brasil uma série de quadros de influências expressionistas que escandalizaram a elite brasileira. Monteiro Lobato não poupou críticas a jovem artista e este fato colaborou como incentivo para a realização de um evento como a Semana de Arte Moderna.
No início da década de 20 num contexto cheio de agitações políticas, culturais e sociais, artistas, poetas e intelectuais brasileiros, entusiasmados com as novas tendências artísticas, organizaram um evento cultural que marcaria para sempre a história da arte brasileira. O evento conhecido como Semana de Arte Moderna ocorreu no período de 11 a 18 de fevereiro de 1922, no Theatro Municipal da cidade de São Paulo. O principal objetivo desse evento era desvencilhar-se do passadismo academicista e conservador que ainda controlavam o repertório artístico-literário brasileiro, fundindo as influências do exterior e elementos da cultura do Brasil afim de criar uma arte essencialmente brasileira.
A Semana de Arte Moderna era um evento que estaria inserido nas comemorações do centenário de Independência do Brasil, de maneira um tanto restrita, porém o bom acolhimento da ideia fez com que o evento tomasse maiores proporções, reunindo mais artistas e sendo realizado no Theatro Municipal de São Paulo.
No evento realizaram-se exposições contando com cerca de cem obras e três sessões literárias-musicais. Entre os artistas plásticos participantes estavam Anita Malfatti, Vicente do Rego Monteiro, Zina Aita, Victor Brecheret e Di Cavalcanti, entre outros, este último foi um dos principais idealizadores do evento. No campo da arquitetura a Semana de Arte Moderna contou com Antônio Moya e Georg Przyrembel. Entre os poetas estavam presentes Graça Aranha, Guilherme de Almeida, Mário de Andrade, Menotti Del Picchia, Oswald de Andrade, Manoel Bandeira entre outros. O poema “Os Sapos” de Manoel Bandeira recitado na abertura do evento foi duramente vaiado e criticado. A programação musical contou com composições de Villa-Lobos e outros.
Ainda que pouco aceito pela elite conservadora de São Paulo e recebendo inúmeras críticas a Semana de Arte Moderna configurou-se como um episódio cultural fundamental para a compreensão do desenvolvimento da arte moderna no Brasil. No entanto as ideias inovadoras que o evento propunha só foram adquirir real importância ao longo do tempo, ampliando-se por meio de revistas como Klaxon e a Revista Antropofagia e alguns movimentos como o Movimento Pau-Brasil, Movimento Verde-Amarelo e o Movimento Antropofágico.

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