Revoltas urbanas e rurais na República Velha
Revoltas
urbanas e rurais na República Velha
Muitos
historiadores classificam as revoltas da República Velha (ou Primeira
República) como rurais ou urbanas. No caso das revoltas rurais, o historiador
Boris Fausto ainda afirma que elas podem ser classificadas de três maneiras
distintas|4|:
1.
As que combinaram conteúdo religioso com carência social: Canudos
e Revolta de Juazeiro.
2.
As que combinaram conteúdo religioso com reivindicação social:
Contestado.
3.
As que expressaram reivindicações sociais sem conteúdo religioso:
greves de trabalhadores rurais organizadas na década de 1910.
Dessa
divisão de revoltas urbanas e revoltas rurais, segue um quadro abaixo que
classifica algumas das que aconteceram durante a Primeira República.
Revoltas urbanas
|
Revoltas rurais
|
Revolta da Vacina
|
Canudos
|
Revolta da Chibata
|
Contestado
|
Revolta dos 18 do Forte de Copacabana
|
Revolta de Juazeiro
|
Greves operárias
|
Cangaço
|
Guerra de Canudos
A Guerra de Canudos foi uma Guerra Civil, que aconteceu entre
os dias 7 de novembro de 1896 e 5 de outubro de 1897, no Sertão da Bahia, mais precisamente no
povoado do Arraial de Canudos. O conflito foi causado pelas desavenças entre o
povo, a Igreja e os poderes públicos, que começou em virtude da grande pobreza
que assolava a região, após a implementação da República em todo o país.
Contexto histórico
da Guerra de Canudos
A Guerra de Canudos foi resultado de
uma grave crise econômica e social que atingiu diversas regiões do Brasil, principalmente
a região Nordeste. Com uma grande presença de grandes propriedades
agrícolas, a seca que afetou a região trouxe consigo uma série de problemas
como o desemprego, pobreza, entre outras questões.
Muitos começaram a acreditar que só
uma salvação milagrosa seria capaz de impedir a miséria e a exclusão social que
aquela população vivenciava.
Logo no início da implementação do
regime republicano, os sertanejos que habitavam em Canudos não contestavam os
novos métodos de governo, mas houve algumas mobilizações contra a cobrança de
impostos. Com isso, a Igreja, os latifundiários e a imprensa se incomodaram com
as manifestações de Canudos que,
por sinal, estava atraindo diversas pessoas.
A comunidade e suas mobilizações
ganhou ainda mais força com o apoio de Antônio Vicente Mendes Maciel,
popularmente conhecido como Antônio
Conselheiro. Autointitulado como o peregrino, que iria salvar a
população daquela miséria, ele conquistou diversos seguidores.
Para ele, o método republicano
implantado no Brasil era a representação do fim dos tempos. Com isso, foi
construída uma imagem de que Antônio Conselheiro e seus seguidores eram
perigosos monarquistas.
Revoltado, o governo do estado da
época pediu apoio aos militares para banir a comunidade e seus moradores.
Porém, o mais curioso foi que nas primeiras três tentativas dos militares, eles
foram vencidos pelo povo de Canudos, o que assustou ainda mais os governantes.
Foi a partir de então que as tropas
do Exército se prepararam para um grande massacre. Todas as casas foram
queimadas, milhares de pessoas foram mortas, entre elas crianças, mulheres e
idosos.
Durante esse grande massacre, mais
precisamente no dia 22 de setembro de 1897, Antônio Conselheiro foi morto por
militares do Exército.
Tenentismo
O tenentismo foi um movimento
político e militar realizado por jovens oficiais brasileiros durante o período
da Primeira República. Esse corpo de
oficiais era composto em geral por tenentes e capitães que estavam insatisfeitos com o sistema político
brasileiro, sobretudo com as práticas do jogo político imposto pelas
oligarquias.
O
surgimento do tenentismo na década de 1920 contribuiu para a desestabilização da ordem política existente
na Primeira República. O surgimento desse movimento remonta à campanha
eleitoral das eleições de 1922. Nessas eleições, a oligarquia paulista e
mineira lançou Artur Bernardes como candidato
a presidente e enfrentou a concorrência de Nilo Peçanha, apoiado pelas
oligarquias de Rio Grande do Sul, Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro.
A
candidatura de Nilo Peçanha ficou conhecida como Reação Republicana, e sua chapa procurou conquistar o voto
das classes médias urbanas. Foi durante essa campanha eleitoral que a imagem de
Artur Bernardes como político antimilitar popularizou-se por causa de cartas
falsas que foram veiculadas com supostas críticas feitas por ele aos militares.
Apesar
de ter sido divulgado à época que os documentos eram falsos, a relação dos militares
com Artur Bernardes desgastou-se profundamente. A situação agravou-se de
maneira definitiva quando o presidente eleito Artur Bernardes ordenou o fechamento do Clube Militar e
a prisão de Hermes da Fonseca.
A partir daí, iniciou-se um movimento de revolta e contestação dentro do
exército contra os governos da Primeira República.
A
atuação do movimento tenentista estendeu-se de 1922 a 1927 e, ao longo desse
período, uma série de rebeliões aconteceu. A primeira grande revolta dos
tenentistas aconteceu em 5 de julho de 1922, na cidade do Rio de Janeiro, e
ficou conhecida como Revolta do Forte de Copacabana ou Revolta dos 18 do Forte de Copacabana.
Os
tenentes rebelados em Copacabana queriam recuperar a honra dos militares,
alegando que eram reprimidos pelo governo de Artur Bernardes. Durante essa
revolta, os tenentes ficaram cercados no Forte de Copacabana e, em certo
momento, 18 oficiais, em um ato de desespero, resolveram marchar pela avenida
Atlântica na direção das tropas do governo. Somente dois oficiais dos dezoito
sobreviveram: Siqueira Campos e Eduardo Gomes.
Depois
desse episódio, o ímpeto da revolta espalhou-se por outros oficiais em
diferentes partes do Brasil. Houve rebeliões tenentistas em Manaus, em 1924,
que ficaram conhecidas como Comuna de Manaus. Houve também a Revolução Paulista de 1924, que posteriormente deu início à Coluna Costa-Prestes, quando as
tropas tenentistas lideradas por Miguel Costa uniram-se com os tenentistas
liderados por Luís Carlos Prestes.
A
Coluna Costa-Prestes surgiu em 1925 e foi considerada o maior movimento tenentista
do período. Os oficiais liderados por Miguel Costa e Luís Carlos Prestes marcharam
no interior do Brasil durante mais de dois anos, lutando contra as tropas do
presidente Artur Bernardes. Ao todo, a Coluna Costa-Prestes marchou por 25.000 quilômetros e cruzou doze estados. O movimento encerrou-se em 1927, quando se exilaram na
Bolívia.
Os tenentistas eram absolutamente contrários às práticas políticas do período
da Primeira República. Assim, eles lutavam contra o poder das oligarquias, sobretudo no interior do
Brasil, onde as desigualdades sociais manifestavam-se de maneira mais
acentuada.
Os
tenentistas consideravam a condição política em que o Brasil se encontrava como
a grande causadora das carências existentes. Como lutavam contra as
oligarquias, naturalmente, eram contrários à existência do federalismo no
Brasil, alegando que esse sistema permitia a fragmentação política do Brasil, o
que gerava a concentração do poder em núcleos regionais.
Os
tenentistas, em geral, defendiam um projeto para o Brasil baseado no liberalismo, porém, é importante
pontuar que dentro do grupo existiam
oficiais que abraçavam outras ideologias, como o comunismo. Além
disso, defendiam a formação de uma república autoritária que promovesse as
mudanças necessárias. Assim, conforme colocam as historiadoras Lilia Schwarcz e
Heloisa Starling, os tenentistas eram “liberais em temas sociais e autoritários
em política”
No campo
econômico, defendiam a modernização e industrialização do país e
o fim da política que priorizava o café na economia brasileira. Por fim, vale
ressaltar que, em questões sociais, eles defendiam “a reforma do ensino
público, a obrigatoriedade do ensino primário e a moralização da política”.
Além disso, “denunciavam, também, as miseráveis condições de vida e a
exploração dos setores mais pobres”
Revolta do
Forte de Copacabana
Conhecida
como uma das primeiras manifestações do movimento tenentista, o Levante do
Forte de Copacabana foi uma das mais significativas demonstrações de crise da
hegemonia oligárquica. Esta revolta foi ambientada no ano de 1922, período em
que acontecia a campanha de sucessão ao governo do presidente Epitácio Pessoa.
A disputa eleitoral envolveu Artur Bernardes, representante da oligarquia
paulista, e Nilo Peçanha, apoiado pelos militares e oligarcas dissidentes do
Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia.
Derrotados na disputa eleitoral, os tenentes se sentiram profundamente frustrados com a perpetuação de mais um representante das oligarquias. Foi nesse momento que uma série de cartas falsas, supostamente escritas por Artur Bernardes, dirigia várias críticas à ação política dos oficiais do exército. Ao mesmo tempo, havia um descontentamento geral contra o novo governo em uma época em que a população sentia profundamente as mazelas causadas pelo conservadorismo político-econômico dos oligarcas.
Nesse clima de insatisfação geral, alguns militares de baixa patente organizaram levantes em instalações militares do Rio de Janeiro, Mato Grosso e Niterói. Na verdade, a agitação desse militares somente tomou corpo depois que o marechal Hermes da Fonseca foi preso após criticar o processo eleitoral que garantiu a vitória de Artur Bernardes. Entre os diversos focos de revolta, o mais grave aconteceu na capital, no interior das instalações do Forte de Copacabana, em cinco de julho de 1922.
Controlados sob a liderança de Euclides Hermes da Fonseca (filho do marechal) e Siqueira Campos, os militares amotinados apontaram seus canhões em diferentes pontos do Rio de Janeiro. Segundo relato, a intenção desses revoltosos era de tomar o Palácio do Catete e colocar Hermes da Fonseca como presidente provisório. Nesse meio tempo, os votos da última eleição seriam recontados para que se acabassem as suspeitas de fraude que marcaram aquela disputa.
Temendo o poder de reação do governo, os líderes do Forte permitiram que aqueles soldados que não quisessem participar do levante saíssem do local. De todos os 300 amotinados ali encontrados, somente vinte e oito resolveram permanecer no conforto. Com a imensa deserção acontecida, Euclides Hermes da Fonseca resolveu sair do Forte para tentar negociar com o governo. Após sua saída, foi imediatamente preso e o prédio bombardeado pelas tropas governamentais.
A intensificação dos ataques forçou o pequeno grupo a abandonar o Forte de Copacabana. Entre todos os participantes, somente dezessete resolveram seguir em frente com o arriscado plano. A caminho do palácio, os militares ganharam o apoio de um civil chamado Otávio Pessoa. Assim, os “18 do Forte” saíram pela Praia de Copacabana dispostos a enfrentar as tropas do governo. No confronto, dezesseis deles foram mortos. Eduardo Gomes e Siqueira Campos acabaram presos.
Apesar da eficiente represália das tropas oficiais, o evento dos “18 do Forte” inspirou outros indivíduos ligados ao Exército a darem continuidade ao movimento tenentista. Dois anos mais tarde, novos incidentes envolvendo os militares mostrariam, mais uma vez, a crise que acometia os grupos políticos vinculados às oligarquias. Sinais de que os anseios políticos da época passavam por uma séria transformação e que os cafeicultores não poderiam assegurar sua própria hegemonia.
Derrotados na disputa eleitoral, os tenentes se sentiram profundamente frustrados com a perpetuação de mais um representante das oligarquias. Foi nesse momento que uma série de cartas falsas, supostamente escritas por Artur Bernardes, dirigia várias críticas à ação política dos oficiais do exército. Ao mesmo tempo, havia um descontentamento geral contra o novo governo em uma época em que a população sentia profundamente as mazelas causadas pelo conservadorismo político-econômico dos oligarcas.
Nesse clima de insatisfação geral, alguns militares de baixa patente organizaram levantes em instalações militares do Rio de Janeiro, Mato Grosso e Niterói. Na verdade, a agitação desse militares somente tomou corpo depois que o marechal Hermes da Fonseca foi preso após criticar o processo eleitoral que garantiu a vitória de Artur Bernardes. Entre os diversos focos de revolta, o mais grave aconteceu na capital, no interior das instalações do Forte de Copacabana, em cinco de julho de 1922.
Controlados sob a liderança de Euclides Hermes da Fonseca (filho do marechal) e Siqueira Campos, os militares amotinados apontaram seus canhões em diferentes pontos do Rio de Janeiro. Segundo relato, a intenção desses revoltosos era de tomar o Palácio do Catete e colocar Hermes da Fonseca como presidente provisório. Nesse meio tempo, os votos da última eleição seriam recontados para que se acabassem as suspeitas de fraude que marcaram aquela disputa.
Temendo o poder de reação do governo, os líderes do Forte permitiram que aqueles soldados que não quisessem participar do levante saíssem do local. De todos os 300 amotinados ali encontrados, somente vinte e oito resolveram permanecer no conforto. Com a imensa deserção acontecida, Euclides Hermes da Fonseca resolveu sair do Forte para tentar negociar com o governo. Após sua saída, foi imediatamente preso e o prédio bombardeado pelas tropas governamentais.
A intensificação dos ataques forçou o pequeno grupo a abandonar o Forte de Copacabana. Entre todos os participantes, somente dezessete resolveram seguir em frente com o arriscado plano. A caminho do palácio, os militares ganharam o apoio de um civil chamado Otávio Pessoa. Assim, os “18 do Forte” saíram pela Praia de Copacabana dispostos a enfrentar as tropas do governo. No confronto, dezesseis deles foram mortos. Eduardo Gomes e Siqueira Campos acabaram presos.
Apesar da eficiente represália das tropas oficiais, o evento dos “18 do Forte” inspirou outros indivíduos ligados ao Exército a darem continuidade ao movimento tenentista. Dois anos mais tarde, novos incidentes envolvendo os militares mostrariam, mais uma vez, a crise que acometia os grupos políticos vinculados às oligarquias. Sinais de que os anseios políticos da época passavam por uma séria transformação e que os cafeicultores não poderiam assegurar sua própria hegemonia.
Revolta
da vacina
A cidade do Rio de Janeiro sofria em 1904
com sérios problemas de saúde publica. Com cerca de 800 mil habitantes,
diversas doenças – como tuberculose, peste bubônica, febre amarela, varíola, malária, tifo, cólera - assolavam a população e eram objeto de
preocupação dos governantes. O então presidente Rodrigues Alves com o
intuito de modernizar (e embelezar) a cidade e também controlar tais epidemias,
iniciou uma série de reformas urbanas que mudou a geografia da cidade e o
cotidiano de sua população.
As mudanças
arquitetônicas da cidade ficaram a cargo do engenheiro Pereira Passos. Ruas
foram alargadas, cortiços foram destruídos e a população pobre removida de suas
antigas moradias. Coube a Oswaldo Cruz, nomeado
diretor geral de Saúde Pública em 1903, a missão de promover um saneamento na
cidade e erradicar a febre amarela, a peste bubônica e a varíola. Com este
intuito, em junho de 1904 o governo fez uma proposta de lei que tornava
obrigatória a vacinação da população. Mesmo com 15 mil assinaturas contrárias,
a lei foi aprovada no dia 31 de outubro.
A esta lei já impopular,
juntou-se uma drástica regulamentação proposta por Oswaldo Cruz. Nela,
exigia-se comprovantes de vacinação para realizar matrículas nas escolas, assim
como para obtenção de empregos, viagens, hospedagens e casamentos. Previa-se
também o pagamento de multas para quem resistisse à vacinação. Quando esta
proposta vazou para a imprensa, o povo indignado e contrariado deu início a
maior revolta urbana que já tinha sido vista na capital.
A revolta
começou em tono da estátua de José Bonifácio no Largo de São Francisco e
rapidamente se espalhou por diversos lugares da cidade atingindo locais como
Laranjeiras, Botafogo, Tijuca, Rio Comprido, Engenho Novo, Copacabana, além dos
bairros da região central. Pedras, tiros, barricadas, fogueiras, depredações,
eram utilizadas pela população para mostrar sua insatisfação. A repressão
policial foi severa, sendo o saldo total desta revolta a prisão de 945 pessoas
na Ilha de Cobras, 30 mortos, 110 feridos e 461 deportações para o Estado do
Acre.
José Murilo de Carvalho aponta para o fato
que tiveram várias revoltas dentro da revolta, isto é, vários segmentos da
população de diversas classes sociais e
motivações políticas estiveram a frente destas agitações. Segundo o autor, a
motivação para o povo se rebelar não era fundamentalmente econômica, e nem o
deslocamento populacional ocasionado pelas mudanças ocorridas na cidade
(embora, muitos estudiosos afirmem que a revolta ocorreu por uma soma de
insatisfações com a política realizada, inclusive a remoção das moradias). Para
ele, a Revolta
da Vacina se distingue de protestos anteriores pela sua
amplitude e intensidade baseada na justificativa moral.
A forma como o processo foi conduzido por
Oswaldo Cruz, apesar das boas intenções, foi entendido como arbitrário e
despótico, sendo suas medidas apontadas como violação dos direitos civis e
constitucionais. Além disso, havia um componente moral muito grande, pois
naquela época foi considerado um crime contra honra de um chefe de família que
seu lar, assim como os corpos de suas mulheres fossem invadidos por um
desconhecido.
Revolta
da chibata
A Revolta da Chibata ocorreu
durante o governo de Hermes da Fonseca, em 1910. Foi um levante de cunho
social, realizado em subdivisões da Marinha, sediadas no Rio de Janeiro. O
objetivo era por fim às punições físicas a que eram submetidos os marinheiros,
como as chicotadas, o uso da santa-luzia e o aprisionamento em celas destinadas
ao isolamento. Os marinheiros requeriam também uma alimentação mais saudável e
que fosse colocada em prática a lei de reajuste de seus honorários, já votada
pelo Congresso. De todos os pedidos requeridos, o que mais afligia os marujos
eram os constantes castigos a que eram sujeitos. Esta situação revoltou os
marinheiros, que eram obrigados, por seus comandantes, a assistir a todas as
punições aplicadas, para que elas servissem de exemplo. Os soldados se juntavam
e ao estampido de tambores traziam o rebelado, despido na parte de cima e com
as mãos atadas, iniciando o castigo.
A sublevação deu-se quando um marinheiro
de nome Marcelino Rodrigues levou 250 chicotadas por ter machucado um
companheiro da Marinha no interior do navio de guerra denominado Minas Gerais,
que se encontrava a caminho do Rio de Janeiro. Os rebelados assassinaram o
capitão do navio e mais três militares. Enquanto isso, na Baía de Guanabara, os
insurgentes conseguiram a adesão dos marujos da nau São Paulo.
O condutor da insurreição, João
Cândido -
o célebre Almirante Negro –, foi o responsável por escrever a missiva com as
solicitações exigidas para o fim da revolta.
O presidente Hermes da Fonseca
percebeu que não se tratava de um blefe e decidiu ceder diante do ultimato dos
insurgentes. Os marinheiros confiaram no presidente, entregaram as armas e os
navios rebelados, mas com o término do conflito o governante não cumpriu com a
sua palavra e baniu alguns marinheiros que haviam feito parte do motim. Os
marinheiros não se omitiram diante deste fato, estourando outro levante na Ilha
das Cobras, o qual foi severamente abafado pelas tropas do governo. Muitos
marujos morreram, outros tantos foram banidos da Marinha. Quanto a João
Cândido, foi aprisionado e atirado em um calabouço na Ilha das Cobras. Quando
se livrou da prisão, encontrava-se emocionalmente amargurado, considerado até
mesmo meio alucinado. Em 1912 ele foi julgado e considerado inocente.
Historicamente ficou conhecido como o Almirante Negro, aquele que aboliu o uso
da chibata na Marinha brasileira.
Guerra do
Contextado
A Guerra do Contestado aconteceu em
uma área disputada pelos
estados de Santa Catarina e Paraná entre
1912 e 1916. Assim como aconteceu em Canudos, na região do Contestado, uma
série de sertanejos pobres e desalentados encontrou, no discurso de um líder
religioso, chamado José Maria,
uma alternativa para sua vida e passou a segui-lo.
O contexto em que ocorreu o Contestado
era tenso. Primeiro, havia a disputa territorial entre Santa Catarina e Paraná.
Além disso, parte da região contestada foi entregue para Percival Farquhar (um
magnata conhecido por construir a ferrovia Madeira-Mamoré) para que construísse
uma ferrovia que ligasse o Rio Grande do Sul a São Paulo.
No acordo de cessão de terras, a Farquhar
também foram entregues terras num raio de 15 km da ferrovia, para que ele
pudesse explorar a madeira disponível na região. Acontece que a região já era
habitada por pessoas que viviam de uma agricultura de subsistência e da
erva-mate. A empresa vinculada a Farquhar, responsável pela exploração da
madeira nessas terras, organizou tropas de jagunços para expulsar os habitantes
da área.
Além disso, milhares de trabalhadores da
ferrovia perderam seus empregos, o que reforçou o grupo de pessoas pobres. A
guerra em si começou em outubro de 1912, quando um grupo de pessoas lideradas
por José Maria instalou-se em Irani, na região contestada pelos dois estados. O
agrupamento de pessoas em Irani foi entendido pelo Paraná como uma invasão
coordenada pelos catarinenses, e, assim, esse estado atacou os sertanejos.
Nesse ataque, José Maria acabou sendo morto.
Após a morte de José Maria, o fervor religioso prosseguiu com os
sertanejos fundando uma série de comunidades autônomas. A existência dessas
comunidades era enxergada pelos coronéis locais como uma ameaça, e foi daí que
se iniciou a repressão contra as comunidades autônomas formadas pelos
sertanejos.
A raiz do conflito é explicada pelo
historiador Paulo Pinheiro Machado da seguinte maneira:
Os episódios
de perseguição policial contra o monge José Maria foram motivados pelo temor da
concentração de gente pobre do campo. As autoridades locais e estaduais, em sua
maioria grandes fazendeiros e oficiais da Guarda Nacional, sentiam que tinham
como missão subjugar os sertanejos que não se submetiam mais aos seus
respectivos coronéis. Formavam-se grupos autônomos, com fortes vínculos
religiosos, nos quais expectativas místicas mesclavam-se à crítica social.
Originalmente, essas comunidades não eram hostis nem militarizadas, mas seu
anseio por independência despertou a ira dos governantes, da imprensa e dos
fazendeiros.
A Guerra do
Contestado estendeu-se até janeiro de 1916 e foi responsável pela morte de
cerca de 10
mil pessoas. As comunidades autônomas foram destruídas e, nas
décadas seguintes, foi realizado um processo
de branqueamento daquela região.
Semana da Arte
Moderna
O final do século XIX e a primeira metade do século XX foram
períodos de grandes e significativas transformações na arte, especialmente nas
artes visuais, na literatura, na música e na arquitetura, visando desprender-se
de antigos valores estéticos. As novas tendências artísticas que vigoravam na
Europa não demoraram muito para espalhar-se pelo mundo e chegar ao Brasil por
artistas que estudavam na Europa e voltavam influenciados por essas novas
ideias. Um bom exemplo são as primeiras exposições de Anita Malfatti, que recém
voltada da Alemanha, trazia ao Brasil uma série de quadros de influências
expressionistas que escandalizaram a elite brasileira. Monteiro Lobato não
poupou críticas a jovem artista e este fato colaborou como incentivo para a
realização de um evento como a Semana de Arte Moderna.
No início da década de 20 num contexto cheio de agitações
políticas, culturais e sociais, artistas, poetas e intelectuais brasileiros,
entusiasmados com as novas tendências artísticas, organizaram um evento cultural
que marcaria para sempre a história da arte brasileira. O evento conhecido como
Semana de Arte Moderna ocorreu no período de 11 a 18 de fevereiro de 1922, no
Theatro Municipal da cidade de São Paulo. O principal objetivo desse evento era
desvencilhar-se do passadismo academicista e conservador que ainda controlavam
o repertório artístico-literário brasileiro, fundindo as influências do
exterior e elementos da cultura do Brasil afim de criar uma arte essencialmente
brasileira.
A Semana de Arte Moderna era um evento que estaria inserido nas
comemorações do centenário de Independência do Brasil, de maneira um tanto
restrita, porém o bom acolhimento da ideia fez com que o evento tomasse maiores
proporções, reunindo mais artistas e sendo realizado no Theatro Municipal de
São Paulo.
No evento realizaram-se exposições contando com cerca de cem obras
e três sessões literárias-musicais. Entre os artistas plásticos participantes
estavam Anita Malfatti, Vicente do Rego Monteiro, Zina Aita, Victor Brecheret e
Di Cavalcanti, entre outros, este último foi um dos principais idealizadores do
evento. No campo da arquitetura a Semana de Arte Moderna contou com Antônio
Moya e Georg Przyrembel. Entre os poetas estavam presentes Graça Aranha,
Guilherme de Almeida, Mário de Andrade, Menotti Del Picchia, Oswald de Andrade,
Manoel Bandeira entre outros. O poema “Os Sapos” de Manoel Bandeira recitado na
abertura do evento foi duramente vaiado e criticado. A programação musical
contou com composições de Villa-Lobos e outros.
Ainda que pouco aceito pela elite conservadora de São Paulo e
recebendo inúmeras críticas a Semana de Arte Moderna configurou-se como um
episódio cultural fundamental para a compreensão do desenvolvimento da arte
moderna no Brasil. No entanto as ideias inovadoras que o evento propunha só
foram adquirir real importância ao longo do tempo, ampliando-se por meio de
revistas como Klaxon e a Revista Antropofagia e alguns movimentos como o
Movimento Pau-Brasil, Movimento Verde-Amarelo e o Movimento Antropofágico.
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