Independência da América Espanhola
O processo de independência da América Espanhola ocorreu em um conjunto de situações experimentadas ao longo do século XVIII. Nesse período, observamos a ascensão de um novo conjunto de valores que questionava diretamente o pacto colonial e o autoritarismo das monarquias. O iluminismo defendia a liberdade dos povos e a queda dos regimes políticos que promovessem o privilégio de determinadas classes sociais.
Sem dúvida, a elite letrada da América Espanhola inspirou-se no conjunto de ideias iluministas. A grande maioria desses intelectuais era de origem criolla, ou seja, filhos de espanhóis nascidos na América desprovidos de amplos direitos políticos nas grandes instituições do mundo colonial espanhol. Por estarem politicamente excluídos, enxergavam no iluminismo uma resposta aos entraves legitimados pelo domínio espanhol, ali representado pelos chapetones.
Ao mesmo tempo em que houve toda essa efervescência ideológica em torno do iluminismo e do fim da colonização, a pesada rotina de trabalho dos índios, escravos e mestiços também contribuiu para o processo de independência. As péssimas condições de trabalho e a situação de miséria já tinham, antes do processo definitivo de independência, mobilizado setores populares das colônias hispânicas.
A Independência da América Espanhola foi motivada pela insatisfação colonial com a metrópole, a desestabilização política pós-Período Napoleônico, pelas ideias iluministas, entre outras razões. Os criollos foram os principais agitadores das lutas por emancipação.
O processo de independência
No final do século XVIII, a ascensão de Napoleão frente ao Estado francês e a demanda britânica e norte-americana pela expansão de seus mercados consumidores serão dois pontos cruciais para a independência. A França, pelo descumprimento do Bloqueio Continental, invadiu a Espanha, desestabilizando a autoridade do governo sob as colônias. Além disso, Estados Unidos e Inglaterra tinham grandes interesses econômicos a serem alcançados com o fim do monopólio comercial espanhol na região.
Neste momento, o trono espanhol ficou sob a incumbência de José Bonaparte, irmão de Napoleão. Os colonos americanos, então, jurando fidelidade a Fernando VII, não reconheceram a legitimidade do novo governo. A partir de então, os assuntos da colônia passaram, assim, a ser coordenados diretamente pelos cabildos, espécie de câmara municipal integrada pelos colonos hispano-americanos mais abastados, os criollos.
O autogoverno dos cabildos representava, ao menos na prática, a quase que total autonomia dos colonos no que diz respeito às decisões sobre as questões pertinentes à América Hispânica. Neste momento, caberia a estes homens o papel que anteriormente era desempenhado pela Coroa espanhola e seus representantes. E foi justamente neste cenário que as elites coloniais deram início às lutas pela independência.
Com a derrota de Napoleão e as resoluções do Congresso de Viena, todos os governantes submetidos por Bonaparte foram novamente levados ao poder. Fernando VII, por exemplo, voltara ao trono espanhol, reimplementando o absolutismo no país. Em relação às suas colônias, tentou retomar o controle dessas regiões, retirando toda a autonomia conquistada por seus nativos durante o período marcado pelo autogoverno dos cabildos. Apresentava-se então, mais um fator motivador para o fortalecimento dos movimentos emancipacionistas.
Liderados pelas elites criollas, tais movimentos contaram com pequena participação popular. Diferente da ilha de São Domingos (atual Haiti), colônia francesa cujo processo de independência foi liderado por escravos de origem africana, as colônias espanholas tiveram suas emancipações coordenadas pelos setores mais abastados.
Evidentemente que revoltas populares chegaram a ocorrer, como, por exemplo, o movimento liderado pelos padres Miguel Hidalgo e José Morellos no México, e a rebelião organizada por Tupac Amaru na região do Peru. No entanto, todas elas foram frontalmente combatidas não apenas pelas autoridades espanholas, mas também pelas elites criollas, temerosas da “haitinização” dos movimentos de independência.
Diante da revolta generalizada, o rei espanhol Fernando VII chegou a pedir ajuda a Santa Aliança (organização da qual a Espanha participava e que tse arrogava o direito de intervir nas colônias). Mas os Estados Unidos e a Inglaterra se opuseram à intervenção e reconheceram a independência das colônias espanholas. Sem a ajuda da Santa Aliança, o domínio da Espanha na América chegou ao fim.
A Posição dos EUA pode ser resumida na política estabelecida, em 1823, pelo presidente James Monroe, a chamada Doutrina Monroe, que declarava "a América para os americanos". A Inglaterra era movida por interesses econômicos, já que os novos países podiam representar mercado seguro para seus produtos.
As independências hispano-americanas ocorreram em momentos distintos, basicamente ao longo das três primeiras décadas do século XIX. Em todos os casos, a participação dos “Libertadores da América” foi fundamental. Estes homens eram importantes líderes locais que coordenaram diversos movimentos emancipatórios. Simón Bolívar, José de San Martín, Bernardo O’Higgins e José Sucre foram quatro desses libertadores que, conjuntamente às elites criollas, fundamentaram o surgimento dos primeiros países livres no território da América Espanhola.
Na América espanhola, a ocupação da Espanha pelas tropas de Napoleão enfraqueceu o controle da metrópole sobre as colônias. Em 1811, o padre Hidalgo tentou sem êxito proclamar a independência do Vice-Reino de Nova Espanha (México). Nova tentativa em 1813, novo fracasso: Hidalgo foi executado. A conquinta da independência veio em 1821, liderada pelo general Itúrbide, que se proclamou imperador. Obrigado a abdicar em 1823, morreu fuzilado. O méxico tornou-se então uma República federal independente.
Do Vice-Reino de Nova Granada surgiram Venezuela, Colômbia e Equador, libertados por Simón Bolívar, respectivamente, em 1817, 1819 e 1822. O Vice-Reino do Peru deu origem a três países: Peru, Chile e Bolívia.
Do Vice-Reino do Prata surgiram outros três países: Argentina, Uruguai e Paraguai. O Paraguai libertou-se sem guerras em 1811. O Uruguai, invadido por Portugal em 1816 e anexado ao Brasil com o nome de Porvíncia Cisplatina, só se tornou independente em 1828.
PÓS-INDEPENDÊNCIA
Com o sucesso das independências, a maioria dos novos países estabeleceu a república como sistema de governo, agora invariavelmente sob a liderança dos antigos criollos. Esta formatação política contribuiu para a fragmentação do território hispano-americano, pois os interesses desses líderes locais em manter o domínio sob suas regiões fragilizavam qualquer tentativa de unificar essas áreas.
Simón Bolívar foi o grande representante do projeto unitarista, defendendo a união das ex-colônias espanholas em uma única e grandiosa nação independente. Bolívar advogou esta proposta no Congresso do Panamá, encontro que buscava definir os caminhos a serem tomados pelos novos países latino-americanos. No entanto, frente aos interesses das lideranças locais e ao desejo da Inglaterra e dos Estados Unidos em impedir a formação de uma potência rival na região, seu programa unitarista foi derrotado. Deste modo, a fragmentação do território foi consolidada e a formação de vários países foi estabelecida.
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