A REVOLUÇÃO BURGUESA NA INGLATERRA (Revoluções Inglesas)


A REVOLUÇÃO BURGUESA NA INGLATERRA (Revoluções Inglesas)

Por revoluções Burguesas entendemos o processo pelo qual a burguesia europeia assume o controle do estado em seus países com o objetivo de eliminar os vestígios da ordem feudal apontados como empecilhos para o avanço das práticas capitalistas. A referência para o advento de tais revoluções e o século XVIII, com o esplendor das idéias iluministas, mas, na Inglaterra, o avanço das forças capitalistas no país, determinou a precocidade da Revolução Inglesa(XVII). Além disto, as Reformas Protestantes e as transformações sociais em curso na Inglaterra também contribuíram para o desencadeamento da revolução.

Absolutismo Limitado

 A Inglaterra nunca teve um absolutismo acentuado. Ao contrário desde 1215 quando do início do processo de fortalecimento do poder real se formou o parlamento na Inglaterra que passou a controlar a ação do rei. Devido a questões sucessórias após a morte do Rei Ricardo e ascensão de João-Sem-Terra. Também a Guerra dos Cem Anos 1337/1453 fortaleceria o poder da nobreza, pois centralizou mais o poder nas mãos do Rei. A Guerra das Duas Rosas (1455/1485) e solução encontrada para o seu desfecho permitiu a ascensão da Dinastia Tudor, com Henrique VII que pôs fim a luta entre os York e os Lancaster. Mas foi Henrique VIII que impôs o absolutismo na Inglaterra ao promover a Reforma Protestante criando a Igreja Anglicana através do Ato de supremacia, tornando-se também o chefe da Igreja. Além disto, se apossou das terras da Igreja Católica “distribuindo-as” entre a burguesia e a nobreza em troca de apoio político. No governo de Elizabeth I (1558/1603) o mercantilismo inglês obteve grande sucesso com o desenvolvimento de uma poderosa frota naval e a expansão e exploração do império colonial. Apesar do fortalecimento do absolutismo o parlamento se manteve ativo e, ao impor limitações ao poder real, o que gerou os choques que culminaram com a revolução.

O Fortalecimento a burguesia

O comercialismo foi o mercantilismo adotado pelos ingleses, que se voltou na busca de uma ativa participação no comércio mundial. Para isto formou companhias de comércio e navegação, favoreceu a construção naval constituindo não só uma grande frota mercante, mas também uma poderosa marinha de guerra além de manter corsários à serviço da Coroa. Os lucros do comércio passaram a ser investidas na indústria, notadamente do setor têxtil. Além disto, a burguesia e a gentry (nobreza progressista) se apossaram das terras antes pertencentes à Igreja Católica promovendo os Cercamentos dos Campos, expulsando os servos e desenvolvendo a criação de ovelhas para a produção de lã, matéria-prima para a indústria têxtil em expansão. Rica e influente e contando com o apoio da gentry, a burguesia se fazia representar através do parlamento.

Os Grupos envolvidos

 A Inglaterra à época vivia profundas transformações religiosas e sociais que se mesclaram com as questões ideológicas e políticas. Ao promover a Reforma Protestante na Inglaterra e fundar a Igreja Anglicana, Henrique VIII procurou fortalecer o lado ritualista da religião, enfatizando uma face mais próxima do catolicismo visando, através da legislação religiosa, fortalecer sua autoridade, buscando o apoio dos redutos católicos liderados pela nobreza tradicional. Isto gerou a reação dos calvinistas, que se dividiram em duas correntes: os puritanos que reunia a burguesia e a gentry que defendiam uma igreja separada do estado, onde seriam os presbíteros que escolheriam os líderes de suas igrejas, não aceitando a indicação de bispos pelo rei; já os independentes, mais radicais, não aceitam nenhuma estrutura clerical pregando que cada fiel deve ser seu próprio pastor. Es te ideal de uma igreja mais democrática consegue grande aceitação entre as camadas populares onde se originam várias seitas (como os Ranters, Seekers e Quackers). Aos independentes unem grupos ainda mais radicais: os Levellers: (Niveladores) grupo que reivindicavam, entre outras coisas, o voto universal masculino e a implantação de uma república formada por pequenos proprietários; Diggers: (Escavadores ou cavadores), grupo formado por antigos servos expulsão das terras que se intitulavam “verdadeiros niveladores” ao pretenderem a levar a igualdade política proposta pelos Levellers à esfera econômica, promovendo o estabelecimento da propriedade coletiva da terra. Assim identificamos três grupos envolvidos no processo.
A nobreza tradicional, que apoia o rei absolutista, que reúne anglicanos e católicos.
A burguesia e a gentry que se fazem representar pelo parlamento seguindo orientação puritana.
As camadas populares radicais que são os independentes, Levellers e Digger, sem, contudo, apresentarem unidade entre eles.



As etapas da Revolução Inglesa A Revolução Puritana (1640-1648)

 Os choques entre o rei Carlos I que inaugurou a dinastia Stuart e o parlamento, tornaram-se cada vez mais constantes seja pelas ações do rei para conter a prática dos Cercamentos dos Campos, seja pelas seguidas tentativas de aumentar impostos. Carlos I chega a dissolver o parlamento, mas o novo parlamento que se forma, estabelece que só o parlamento possa se autodissolver, tirando o poder do rei de fazê-lo. O Rei aproveitando-se de formação de um exército para a guerra contra a Irlanda, o Rei mobiliza tropas contra o parlamento dando início à Revolução. O Parlamento forma seu exército para o enfrentamento ao Rei, dando início à Guerra civil. O Exército Modelo (New Model Army) é comandado por Oliver Cromwell que instituiu a promoção ao oficialato por mérito, abrindo a possibilidade de ascensão dentro de uma sociedade até então estamental. Tal incentivo favoreceu a vitória sobre o Exército Real.

A República de Cromwell (1648/1658)

Contando com o apoio das tropas, Cromwell promove um golpe militar, implantando uma república ditatorial, ao expulsar os deputados presbiterianos do parlamento e promover a execução do rei. Cromwell fez um governo voltado para o atendimento da burguesia:
Sufoca os grupos radicais engajados no Exército Modelo cujos ideais extrapolavam aqueles pretendidos pela burguesia.
Libera a prática dos Cercamentos dos campos restringidos pelo rei
Edita os Atos de Navegação através dos quais favoreceu a construção naval e instituiu que toda mercadoria destinada à Inglaterra e às suas colônias só poderia ser transportada por navios ingleses.
Tais medidas levaram o país ao domínio do comércio mundial, superando a Holanda, tornando a Inglaterra a “Rainha dos Mares”.
Obteve vitórias militares sobre a Holanda e Espanha consolidando a hegemonia inglesa na Europa.
Editou as leis de ”combate ao ócio” impondo rígido controle sobre a mão de obra.

A Restauração Monárquica (1660)

Com a morte de Cromwell, seu filho Ricardo assumiu o poder, mas não mostrou a mesma capacidade política do pai, fazendo um governo fraco que permitiu a rearticulação de alguns grupos populares. Isto favoreceu a reação monárquica, o que determinou a restauração da monarquia sendo o trono entregue a Carlos II, que foi sucedido por seu irmão Jaime II. Os reis Stuart, além de tentarem governar de forma absolutista, tentaram também restaurar o catolicismo.

A Revolução Gloriosa (1688)

A reação burguesa se deu através de um golpe do parlamento, que derruba Jaime II e entrega o trono a Guilherme de Orange, que concorda em submeter-se à Declaração de Direitos (1689. ”Bill Of Rights”) que instituía o regime de Monarquia Constitucional, quando o rei reina, mas não governa: o governo é exercido pelo primeiro ministro que é indicado pelo parlamento. A Revolução Puritana ao assegurar de forma definitiva, o controle do estado à burguesia.
A Importância da Revolução Inglesa

Foi a Revolução Inglesa que possibilitou a criação das condições para o advento da Revolução Industrial:
Permitiu a Inglaterra tanto a expansão do império colonial como o domínio do comércio mundial, assegurando o  controle dos mercados necessários à produção em série.
Com os Cercamentos dos Campos, além da produção de lã (matéria prima para a indústria têxtil, que foi o “carro chefe” da Revolução Industrial) liberou a mão de obra do campo para a indústria. Assim contribuiu para o avanço das características do Capitalismo ao abolir a servidão, principal estrutura do mundo feudal, permitindo a consolidação da propriedade privada da terra e a proletarização da mão- de-obra. O Estado Liberal se afirma com a independência dos poderes e o regime constitucional (Monarquia parlamentar, onde o rei reina e o parlamento governa).

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